14.4.11

Diário de um Linfoma III

Terça-feira, 12 de Abril de 2011

Bem que hoje podia ser dia 25 de Abril, dia da liberdade, mas não, é só dia 12, ainda assim, ainda que eu não queira recordar o dia 12 como um dia especial, há-de ficar registado como o dia da minha libertação. Libertação de angustiantes e sucessivos tratamentos de quimioterapia semanais, de consultas médicas, de idas ao hospital. Porque hoje fiz o último tratamento. E em mim existe um misto de alegria e de um sentimento de “quem me dera que mais ninguém tivesse que passar por isto”, e de vontade de dizer a todos os que ficaram na sala de tratamento quando voltei as costas para sair, aos que ainda estão a começar e aos que já vão a meio, e que estavam a pensar na minha sorte porque tinha chegado ao fim do suplicio, “sei bem o que é estar no vosso lugar e ainda estar a começar com todos os medos do desconhecido e incertezas sobre o futuro”. E este sentimento estranho refletiu-se em olhos marejados quando recebi o abraço de vitória da enfermeira Marta e saí da sala. Ao contrário de todas as outras vezes que quase corri para sair do hospital, hoje saí em câmara lenta como quem saboreia algo doce, sem saudades obviamente mas também sem ressentimentos. Sem ressentimentos porque embora esta seja uma batalha muito dura, dolorosa, cheia de muitos medos, é também uma luta que nos ensina a ver a vida com outros olhos, ensina a pôr em perspectiva tudo o que alguma vez tomámos como garantido, ensina-nos a descomplicar, a viver um dia de cada vez sem pressas nem ansiedades, e ensina-nos a perceber que uma vez que já enfrentámos um cancro, um verdadeiro problema, tudo o resto não passa de questiúnculas de importância reduzida. Depois de se lutar pela vida, e ganhar, depois de tudo mudar para nós e dentro de nós, surge um novo eu, mais tranquilo e de bem com a vida.

Sete meses e dezoito tratamentos depois e ganhei o direito a dois meses de “férias” de hospital. E confesso que ainda não estou bem em mim. Pode muito ser de todas as drogas que recebi hoje e que me deixam o discernimento toldado, pode ser por ainda não ter recebido nem dado todos os abraços amigos que preciso, mas da mesma maneira que no início de todo este processo me perguntava “mas isto está mesmo a acontecer-me?”, agora pergunto-me “mas é verdade que já acabou?”.

Acredito piamente que a minha fé na cura foi um dos grandes alicerces que me permitiu ganhar vantagem sobre a doença. De tal forma que apesar de ter aceitado a doença, eu dizia e ainda digo sempre “não quero estar doente”. A fé e o optimismo, porque a minha vontade de viver, de fazer, de acontecer, realizar, aprender são e estão mais sólidas que nunca. Só gostava de conseguir transmitir esta mensagem e impregná-la no espírito daqueles que estão descrentes para que se agarrem á vida com unhas e dentes, para que, tal como eu, decidam que podem morrer sim senhora, mas não do cancro.

Cat

4 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

Mulher de coragem. Parabéns pela tua vitória, e não tenhas qualquer dúvida que a tua predisposição foi fundamental no desfecho!

Uma grande beijoca e muitos parabéns!

Cat disse...

Rafeiro/ muito obrigada! Estou muito feliz. :D:D:D

Anónimo disse...

Parabens!! Muitos parabens, e não me restam dúvidas de que a sua predisposição e força foram decisivas para o exito alcançado!!
A.G.

Cat disse...

A.G./ muito obrigada!!!