Há cinco meses que estou em casa, porque não escrevo mais? Porque não sei. Não sei escrever mais do que aquilo que escrevo. É pouco, eu sei. Mas eu não sei escrever sobre coisinhas. Porque as coisinhas não me dizem nada e eu só sei escrever sobre aquilo que me diz alguma coisa. Podia aprender, pois podia. Mas, sinceramente, de que me interessa escrever sobre sapatos, roupas, os Óscares ou a fantástica vida dos outros? Mais depressa escrevia sobre como mudar um pneu de um automóvel que experiência não me falta. Nem a mudar nem a arranjar quem o faça, que isto de ter um sorriso pepsodent às vezes dá jeito.
Podia dedicar-me a fazer pesquisas e encher o blog de posts de fotos de gente supostamente gira e feliz e mandar duas larachas para o ar e falar do bom ou mau gosto de cada um, como se o meu gosto fosse a bitola regente, e imaginar que estava a fazer algo de útil, quanto mais não fosse ia dando vida ao blog e em vez de ter três textos num mês teria uns trinta, que isto já se sabe, quanto mais se escreve e quanto mais animado é o blog mais leitores se tem, e deixemo-nos de coisas, que ninguém gosta de escrever para as moscas, todos gostamos que nos leiam. Mas não. Não sei nem quero fazer isso. Pode ser que um dia me escorra o fraco imaginário para aí mas até ver, não.
Podia escrever mais sobre o que têm sido os últimos cinco meses, em casa. Podia pegar nos textos que estão escritos em jeito de diário e colocá-los aqui na esperança que pudessem ajudar alguém, mas nem isso me apetece. Porque, numa antevisão do futuro, não me vai agradar sentir que corrompi o meu blog com textos de matéria mais para o deprimente; mesmo que a mensagem seja positiva, o tom não deixa de ser demasiado sério e pesado. E iria sempre fazer-me lembrar de uma fase má, dolorosa e que, se pudesse, preferia esquecer. Sempre fui assim. O que lá vai, lá vai. Não gosto de pensar sobre o passado, nem revê-lo. E quando tudo isto passar, não vou querer reler sobre a pior altura da minha vida. Sentir que ali está ela toda escarrapachada em letras pretas, como se pudesse voltar para me assombrar. Da mesma forma que, apesar de ter o objectivo pessoal de um dia escrever um livro (mas um livro de jeito, interessante, com uma mensagem a reter, um livro que seja muito mais do que uma capa bonita, um livro que tenha uma história que seja uma influência, que motive e dê inspiração, coisa que só deverei saber fazer quando já tiver uma certa idade sabedora pois ainda tenho tanto que aprender) acho que nunca serei capaz de escrever sobre a minha realidade actual. O mais provável será um dia rasgar tudo o que escrevi e não publiquei. Tal como fiz com as dezenas de vestidos de noiva que desenhei.
Cat
3 comentários:
Não deves ser assim pessimista... empenha-te em construir a tua felicidade.
Tu enervas-me, sabes? Rasgas os trabalhos fantásticos que tinhas e mandas tudo ao ar.
Por outro lado és fantástica. Começas do novo, cabeça fresca. Sempre em frente sem te deixares atrapalhar pelas inseguranças causadas pelo passado.
A tua coragem é contagiante.
Beijinhos
S*/ sou mais resolvida do que pessimista. :)
Nic/ acho que não é só a ti que enervo, mas tu és uma querida, só tu para dizeres o que dizes. :D:D::D:D
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