Há uns dias atrás fui ao sapateiro buscar duas malas que tinha posto a arranjar. Distraída com a conversa, só mais tarde me dei conta que apenas tinha trazido uma pelo que tive que voltar á oficina. Como já não tinha o talão de levantamento, tive que descrever ao senhor que a mala era pequena, preta com tachas cor de prata á frente, de forma rectangular e alça em corrente. Á medida que ia descrevendo a mala o senhor ia apresentando tudo quanto tinha em stock, malas gigantes e horrorosas, em nada parecidas com a minha mala, e eu a insistir que tinha a alça em corrente, era inequívoco pensava eu e enquanto isso perguntava-me se o homem era surdo.
Mais tarde este episódio fez-me pensar. Há pessoas que têm uma grande capacidade de não ouvir os outros. Posso restringir esta observação ao ser masculino e dizer que os homens são exímios em não ouvir as mulheres, quer sejam as mães ou as companheiras. Claro que as mães mais facilmente desculpam os seus meninos pela “surdez” mas às companheiras é mais difícil fazê-lo, pois esta “surdez” normalmente implica não fazerem algo que elas pediram que fizessem, muitas vezes coisas simples como abrir as janelas ou pôr carne a descongelar para o jantar, o que se for repetido transmite o claro sentimento de que afinal não de pode contar com aquele homem para nada. Parece radical mas é logo o que vem á cabeça de uma mulher, que não se pode contar com ele para nada, mesmo que o nada seja algo aparentemente tão insignificante como abrir as janelas. Por outro lado esta “surdez” leva a que os homens não se dêem conta dos pequenos “recados” que se vão soltando, sejam dicas de presentes de aniversário (fazendo-nos o favor de oferecer coisas que nada têm a ver com o que gostamos, o que é ainda mais grave pois ficamos com o terrível sentimento de que afinal não nos conhecem e se calhar até temos razão), ou sítios que gostávamos de visitar.
Mas restringir este comportamento aos homens é redutor, e injusto. Há mulheres que também o fazem com uma certa facilidade. Sinceramente, quase que as invejo. Porque têm uma vida muito mais descansada concentrada no seu próprio umbigo, tomam conta apenas das suas próprias coisas, vivem quase em exclusividade para si próprias mesmo que tenham um companheiro, o que quer dizer que não querem saber se ele tem todas as meias rotas no dedo grande, se os iogurtes já expiraram a validade há um mês ou se o Benfica joga no mesmo dia em que marcou mesa num restaurante concorrido.
Tudo isto me deixa com uma pergunta em aberto, até que ponto sofremos todos de um certo grau de, digamos, distracção, ou simplesmente não queremos saber? Até onde pode uma relação resistir em qualquer um destes ambientes?
Cat
4 comentários:
Olá Cat, boa tarde, desculpe estar a servir-me da sua caixa de comentários mas como não encontrei nenhum e-mail tomei a liberdade.
Queria saber se continuava interessada no livro que licitou aqui: http://takeustobruges.blogs.sapo.pt/225049.html
- O jardim sem limites – Lídia Jorge – até ao momento: 6 gatos - Cat
Caso se mantenha interessada pedia-lhe o favor de me contacatr para o e-mail: takeustobruges@gmail.com com a refª do livro que lhe indiquei.
Grata pela atenção.
Maria
Ao longo do tempo tenho percebido que os homens são mesmo distraídos... e que uma dose moderada de distração é algo com que devemos contar... mas isso não justifica tudo, nem deve justificar... Porque é normal que não consigamos estar sempre atentos a tudo, mas isso de estarmos sempre desatentos a tudo é um bocadinho a esticar a corda...
TM/ alguns esticam mesmo muito a corda, e só quando ela se parte é que acordam. :)
Eu cá sou super distraído... e extremamente preguiçoso... e mai'nada!
Contudo, não acho que distracção seja sinónimo de indiferença. A indiferença é negativa, é solitária, é desligada do meio envolvente. Isso não trás nada de bom. Distracção é algo diferente...
O sapateiro estava indiferente...
Enviar um comentário