Jingle Bells

Eu não gosto do natal. Já o disse várias vezes. E já várias vezes levei com o ar de espanto, de incredulidade e de “lá está esta com a mania que é do contra”. E não me venham com coisas que o natal é giro por causa das criancinhas e das luzinhas que iluminam as cidades e das famílias reunidas e das comidinhas e das cançõezinhas e do amor no coração. No dia 26 ou 27, ou no máximo, no pós passagem de ano já ninguém se lembra do amor no coração.

Não gosto do natal porque reina a hipocrisia. Porque tem tudo menos verdadeiro amor no coração.

É no natal que muitas gentinhas se supõem e se intitulam de melhores pessoas mesmo que no resto do ano tenham sido uns filhos da mãe para os colegas ou colaboradores ou vizinhos, ou para o cão abandonado com fome e sede que enxotaram da porta.

É no natal que se pretende que sejam todos muito bonzinhos e que, voluntaria e generosamente, não se importem de ajudar as causas de quem passa frio e fome e de quem está doente, porque isso faz delas pessoas boas.

É no natal que são todos muito amiguinhos uns dos outros, muitas palmadinhas nas costas nos jantares, trocas de prendinhas como se gostassem muito uns dos outros e não estivessem ali a fazer um frete só para ficarem bem na fotografia porque afinal o importante é aparecer.

E no resto do ano? Ninguém se lembra que o espírito de amor e generosidade e compaixão devia estar presente todos os dias. Que todos os dias um pequeno acto ou gesto para com o próximo pode fazer uma diferença gigantesca na vida dessa pessoa.

Nunca fui de andar em rebanho, de ir atrás dos outros ou de modas por ser isso que se espera e fica bem. Parece que é obrigatório gostar do natal porque sim, no natal não há direito de ser rabugento porque é natal, temos que ser todos muito felizes mesmo que seja fingido. Eu não sou fingida. Sou feliz, mas não é por ser natal que sou mais feliz.

Cat