Subiu à serra. Sozinha.
Ignorando todos os pensamentos que teimavam em ocorrer de como poderia ser arriscado fazê-lo sozinha. Subir quilómetros num espaço sem rede telefónica.
Subiu à serra. Sozinha. Que era como queria e precisava de estar.
Solidão. Isolamento.
Silencio de vozes humanas.
Subiu à serra. Ininterruptamente. Em marcha vigorosa. Concentrada. Como se fosse urgente chegar ao cume.
O tempo estava cinzento. O nevoeiro, que não permitia ver mais do que uma distância de dois metros à sua frente, tornava o ambiente sinistro. O medo nem sequer se lembrou de surgir.
Nada a impediria de cumprir a sua demanda. Não sabia muito bem por que tinha que o fazer. Sabia que precisava. Tinha que ser.
Subiu à serra.
Lá em cima sentia-se num lugar imponente.
Com o olhar conseguia abarcar toda a serra. Conseguia observar os traços definidos das zonas mais verdes, e o verde mais incipiente das vastas zonas que haviam sido cruelmente consumidas pelos incêndios do Verão anterior, como se um artista os tivesse rigorosamente desenhado a lápis de cor. Retinha na memória as imagens nocturnas das linhas de fogo, qual inferno lançado na serra. Ao nariz ainda lhe vinham o cheiro a fumo e a cinza.
O nevoeiro tinha ficado para trás.
Começaram a cair algumas gotas de chuva. Não tinha levado guarda-chuva nem impermeável.
Sentia calor. Sentia o suor escorrer-lhe pelas costas.
Respirou fundo varias vezes. Deixou que os sentidos abraçassem as mensagens que a natureza lhe dava.
Os sons. Os cheiros.
Sentia-se inebriada.
Quase inconscientemente começou a tirar as roupas que caíam aleatoriamente no chão. Peça por peça.
Ficou nua como quando veio ao mundo.
E assim se deixou ficar. De pé, braços abertos qual Cristo rei, palmas das mãos viradas para cima, cabeça inclinada para trás.
Deixou-se ficar assim.
Sentia as gotas de chuva caírem-lhe no rosto, escorrendo pelo pescoço em pequenos rios, banhando-lhe o corpo. Talvez a chuva lhe lavasse a alma.
Sentia-se a abraçar o vento, sentindo-o em cada poro da sua pele.
Esticou-se, pondo-se nas pontas dos pés, com as mãos tentando alcançar o azul do céu que as nuvens escondiam.
Sentia-se numa realidade que a transcendia, como se ela própria fosse, naquele momento, um dos elementos da natureza…
Cat
5 comentários:
magnífico.
há momentos assim.
Adoro a chuva assim...
Beijo
Não consigo resistir... Desculpa...
A seguir apareceu o CSI? :)
CSI? Cheira-me que mais alguém sabe mais alguma coisa...
Olá
Bom a solidão as vezes, e esse isolamento assim...
Beijoka
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