Ele aproximou-se devagar. Olhava-a detalhadamente. Os olhos profundos, inocentemente sedutores, onde queria perder-se, o nariz de menina que sabe o que quer com as sardas que atraiçoavam a pele morena, os lábios que lhe pareciam saborosos, queria tanto prová-los… deslizou com as pontas dos dedos na curva do rosto, desenhando-lhe o contorno, descendo atrevidamente pelo pescoço em direcção ao peito. Sabia que estava a deixar um rasto de fogo… queria sentir-lhe o cheiro, o cheiro dela, da pele, conhecê-la pelo seu cheiro, identificá-la pelo odor… queria tocar a pele que sonhava macia, doce, sentir-lhe o quente… aproximou-se mais, tanto que o nariz lhe tocava o rosto numa carícia torturante… sentia-a, sentiu-a devagar, cada milímetro de pele, cada arrepio que lhe provocava… queria-a tanto! Tanto que lhe parecia impossível… batia-lhe forte o peito, perguntava-se como podia desejar tanto alguém… sabia-o bem… ela mexia com ele de uma forma quase transcendente, provocava-o, seduzia-o, desafiava-o até ao limite da sua resistência… queria-o também, mas nada de pressas que a pressa é inimiga da perfeição. Beijou-lhe os lábios ternamente, quase a medo, lábios de pecado… a língua ansiava-lhe pela dela… sentir-lhe o sabor quente de maçã e mel, imaginava… queria atrever-se, tomá-la nos braços, agarrá-la, possui-la… nunca mais a perder, que a perda era tão dura, senti-la a fugir de si… mas ele sabia que dessa vez não, nunca mais o permitiria. Queria-a tanto, tê-la para si… as bocas atreveram-se… tocaram-se as línguas… escaldavam… rebentava o desejo, queria mais e mais e mais… num movimento frenético sentiu-se ansioso, agitado… alguma coisa estava mal! Não! Não podia ser! Não, não, não!!! Não agora!!!
06H50 anunciava o despertador.

Cat